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Fernanda Lima: ‘Casamento é muito complicado. O casal vai sendo espremido pela rotina’
A famosa vem passando pelos grandes marcos da vida com tranquilidade e autoconsciência — fruto de uma trajetória repleta de reflexão e conquistas
Vinte e cinco dias separaram o diagnóstico de câncer de pâncreas de Maria Tereza Pereira do momento em que ela faleceu. Num dia estava bem, no outro já não mais. Ainda que tenha sido tão repentino, sua filha soube imediatamente o que fazer. Largou a rotina agitada e foi ao hospital ficar ao seu lado — mas não só isso.
Para além de lhe fazer companhia, Fernanda Lima resolveu aproveitar esses que viriam a ser os dias finais de sua mãe para ter com ela as conversas que nunca teve. Relembrou momentos importantes, reconheceu a dedicação que a mãe lhe deu, choraram juntas e, principalmente, agradeceu. Quando Maria Tereza se foi, em março de 2024, a filha estava em paz.
Poucas pessoas podem dizer que souberam exatamente o que fazer em um momento como a morte inesperada de um dos pais. “Como lido há muito tempo com minha espiritualidade, com a elaboração de sentimentos, antes de perdê-la eu já estava preparada. Sabia que ela ia e sabia o que tinha que ser feito sobre a nossa relação”, diz a apresentadora.
A relação das duas sempre foi próxima e respeitosa. Maria Tereza incentivou que Fernanda saísse de casa aos 14 anos para seguir a sonhada carreira de modelo, e segurou a onda que foi criar sozinha três adolescentes quando se separou do ex-marido. (Fernanda só foi saber o tamanho desse peso durante um Arquivo Confidencial, quadro do antigo programa do Faustão na TV Globo, em que a mãe tocou no assunto.)
“A gente nem imagina o que nossos pais passaram, né? Quando a gente é jovem, a gente não pensa no bem-estar do outro, só quer saber do nosso umbigo”, diz. Não foi à toa que sentiu que tinha tanto a agradecer.
A despedida da mãe, que veio poucos anos depois da morte do pai, em 2020, resume o momento atual da apresentadora: o de “um certo renascimento”, como define.
Aos 47 anos, uma filha que finalmente dorme a noite inteira, outros dois adolescentes encaminhados, os sintomas da menopausa domados e um casamento que segue firme e forte por mais de duas décadas, a apresentadora sente que se preparou a vida inteira para esse momento de tranquilidade.
Nada disso caiu do céu. Foi fruto de muito trabalho, autoconsciência, busca interior e — como não poderia deixar de ser — alguns tropeços no caminho.
A relação de Fernanda Lima com a menopausa
O mais recente veio na forma de uma (ou muitas) onda de calor. Aconteceu numa madrugada de 2022, de férias na Bahia. Sentiu uma quentura que a despertou e a manteve acordada, assustada. O calor se repetiu na noite seguinte. E na seguinte. Muitas noites insones e suadas se passaram antes que ligasse para sua ginecologista. “Fernandinha, você deve estar na perimenopausa”, ouviu. Ela tinha 45 anos e uma filha de 3.
É dessa maneira que Fernanda narra o início de sua jornada com a menopausa na primeira temporada de seu Podcast Zen Vergonha — projeto que ela mesma inventou e financiou, sucesso de público por tratar de forma honesta e cientificamente rigorosa as mudanças no corpo de uma mulher que vai chegando ao fim da vida fértil. No caso dela, as transformações foram violentas: insônia, fogachos, tristeza, falta de energia, lapsos de memória, incômodos com luz e barulho, introspecção. “Nos meus 46 anos eu afundei”, lembra.
O passo seguinte foi reagir. A apresentadora rapidamente se cercou de especialistas e companheiras de jornada para atravessar os sintomas e inseguranças. Começou a reposição hormonal e se jogou nos exercícios físicos. Hoje, treina todos os dias, erguendo peso para criar músculos e chegar ao final da vida com “pernas fortes para caminhar”. Faz yoga e medita, e em 2025 pretende começar a praticar futevôlei e a dançar.
Entendeu também que a alimentação é uma aliada: come o que a faz sentir bem, capricha nas proteínas e mantém o foco. “Eu nunca como nada disso”, disse ela apontando para uma vitrine irresistível recheada de bolos, pães, tortas e empadas, na Padoca do Maní, local escolhido por ela para a entrevista, e do qual é sócia ao lado da sua grande amiga de infância, a chef Helena Rizzo.
“Eu comeria várias coisas ali, mas não como. Antes eu era mais flexível, mas, na menopausa, de cara você ganha quatro quilos e não perde. Então não tem muita escolha. Se você quer estar com o corpo que você tinha antes, você tem que se privar.”
O Zen Vergonha acabou servindo como uma forma de lidar com as mudanças e virou item de utilidade pública. Diversos homens a procuraram dizendo que finalmente entendiam o que as companheiras estavam passando. Falar sobre a saúde da mulher, aliás, se tornou uma causa pessoal: recentemente, Fernanda se tornou também embaixadora da prevenção do câncer de colo de útero.
“A nossa saúde, o nosso trabalho, a nossa maternidade: é tudo negligenciado. A gente é uma máquina que move o mundo e a medicina tem que olhar para nós. A gente fica pedindo uma vacina contra o câncer, a gente quer falar de menopausa na TV. Não sei como esses assuntos não são obrigatórios em todos os lugares”, reflete. Hoje, com os sintomas da menopausa controlados, Fernanda sente que saiu do buraco, enfim.
Revelada por um flash
Nascida em Porto Alegre, filha de um advogado ex-atleta e mãe musicista e professora de educação física, Fernanda foi criada para conquistar o mundo. A mais nova de três irmãos, começou a trabalhar como modelo na adolescência — passou uma temporada no Japão, outra na Itália, até se firmar em São Paulo. Curiosamente, foi uma capa de revista como esta que a alçou à fama nacional.
Em 1997, de cabelos curtinhos e mais escuros, posou para a revista NOVA, à época da Editora Abril, com uma insuspeita blusa frente única. Assim que o flash bateu na peça, no entanto, o tecido se revelou transparente. “Quando saiu a capa, nossa, virou um escândalo. Todo mundo queria saber quem era aquela pessoa e eu dei uma explodida. Deixei de ser uma modelo que fazia poucos trabalhos para uma que trabalhava muito”, lembra rindo, enquanto olha para a foto de si mesma com os seios à mostra, de quase 30 anos atrás.
Da carreira de modelo, migrou para a MTV, onde apresentou os programas Mochilão MTV, Fica Comigo e Luau MTV. Alguns anos depois, foi convidada pela TV Globo para cobrir a licença-maternidade de Angélica. A desenvoltura na frente das câmeras e o jeito sincero de levar os convidados — além de um evidente magnetismo pessoal — lhe renderam participações em novelas, quadros no Fantástico e, finalmente, um programa próprio: Amor & Sexo, que ficou nove anos na grade da emissora, até 2018. Em 2021, estrelou o Bem Juntinhos, ao lado do marido, Rodrigo Hilbert, na GNT.
Fernanda Lima fala sobre casamento e educação dos filhos
É difícil conversar com Fernanda Lima sem perguntar sobre seu casamento, aliás. Juntos desde 2001, a apresentadora vira e mexe se vê confrontada com a fama de “homão da porra” do marido — que cozinha, constrói móveis, é ferreiro e serralheiro, além de saber fazer crochê. Em uma entrevista recente, Fernanda declarou que uma mulher que faz o que Rodrigo faz não seria exaltada como ele é.
Pergunto se são esses os atributos que gosta no companheiro e ela confirma — mas adiciona outros: “Ele é um homem com muitos sentimentos, vulnerável, é um pai excepcional, um homem emocionado, que reconhece os seus erros, sabe? Eu sou louca por ele”.
Alguns minutos depois, somos interrompidas por um homem loiro que para ao nosso lado. É Rodrigo, justamente, que também veio tomar um café na Padoca. “Estava falando de ti!”, disse ela. “Só coisas boas”, confirmo. “Claro, não tem o que falar mal”, responde ele sem titubear, rindo. Os dois se dão um longo beijo apaixonado, exatamente como se imagina ser a interação desse casal, e ele se vai.
Ficar casado por mais de duas décadas, no entanto, vai além da admiração mútua: é uma escolha consciente. “Casamento é um lance muito complicado, né? O casal vai sendo espremido pela rotina, pela criação dos filhos e pela intensidade que é gerenciar uma casa. Parece que o casamento é feito para acabar, para ir definhando, esmagando qualquer possibilidade de frescura e novidade”, diz.
Por isso, se orgulha de ter resistido tantos anos e ainda encontrar alegria e prazer na hora de lidar com as tarefas da vida. “A gente vai se revezando nas obrigações e nos prazeres, e ama o nosso espaço em comum. A gente ama estar em casa, com os filhos, ter nossos hobbies. Qualquer crise é superada quando você está proativo em fazer a coisa ser legal.”
Fernanda é igualmente sincera quando reflete sobre a maternidade. Não é do time que fica incentivando as pessoas a terem filhos a qualquer custo. “Eu digo: ‘Pensa bem. Você tem grana? Não? Então primeiro faz a grana’. Não vai ter filho sem dinheiro, porque você vai se ver sábado de manhã sentada num tapetinho, com um rack e uma TV na frente, brincando com a criança, quando você queria estar indo dar uma corrida no parque. Saiba disso”, diz, enfática.
Recentemente, cedeu aos pedidos dos filhos gêmeos João e Francisco, de 16 anos, e permitiu que começassem a trabalhar como modelos. Não é o que queria para eles — lembra-se bem das dificuldades que vêm com a carreira —, mas entendeu que não pode privá-los da experiência. No fundo, quer que escolham seus próprios caminhos, como ela fez: “Para mim, é inegociável que eles aprendam a ter responsabilidade sobre seus atos. Que tenham verdade, caráter, integridade, que deem o seu máximo. Mas entendo que preciso confiar neles”.
Planos futuros
Uma casinha no campo, uma horta. Adormecer com o pôr do sol, acordar com a claridade. Fazer trabalhos manuais. É assim que Fernanda Lima imagina a sua velhice: “Eu já vivi no mato e voltarei a viver em breve”. Para o futuro próximo, no entanto, quer curtir os frutos dessa fase boa em que entrou. Gosta de ter uma tarde livre no meio da semana para descansar ou então acompanhar de perto o crescimento da pequena Maria. Não abre mão de fazer massagens — seu maior luxo, como define.
Mas a maior recompensa mesmo é uma mudança interna que vem notando: “Me tornei uma pessoa bem pacífica. Antes eu era estressada, me cobrava muito. Sinto que nada mais é uma grande questão. Tenho a sensação de que não tenho tempo a perder, não tenho desgastes que valham a minha paz. Isso veio com a idade”, conta. O que já veio de fábrica, porém, também ajuda. Fernanda Lima é uma pessoa plena — quem a ouve e assiste tem essa exata impressão. “Desde que eu nasci, sou satisfeita. A vida, um amanhecer, me satisfaz. Eu não preciso de muita coisa para ser feliz.”
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