Ela se apaixonou pela melhor amiga
Foi construindo tijolo por tijolo que Iris e Regilene encontraram, enfim, a alegria de compartilhar uma vida

Muitas vezes, o amor está bem pertinho, logo ao lado, e passamos anos sem notá-lo — ou apenas o ignorando. Afinal, é necessário muita coragem para se reconhecer em um novo amor.
Iris tinha 39 anos quando se viu nessa situação. Ela era professora em Macapá (AP), casada há 19 anos, mãe de dois filhos, e presa em um relacionamento que, para os outros, parecia ir bem, mas não passava de um ciclo de medo e violência. O ex-marido era um homem querido pela vizinhança, só que, dentro de casa, bebia, jogava e agredia. Sua vizinha Regilene, que também tinha filhos, assistia de perto essa realidade.
Foi ela quem, muitas vezes, ajudou a preparar o almoço quando Iris não conseguia, ouviu desabafos que não encontravam espaço em outro lugar e, sem saber, se tornou refúgio. A relação entre as duas cresceu como se sempre estivesse ali, esperando ser percebida.
Até que em uma noite, num momento de descontração, veio a revelação: “Eu gosto de você”. Não era como amiga, mas como alguém que queria ficar perto, cuidar e ser cuidada. Para Iris, foi um susto. Nunca havia se imaginado nessa situação e nem era algo que fazia parte de sua percepção sobre si mesma. Quando a vizinha repetiu a declaração, no dia seguinte, sem nenhum efeito da bebida da noite anterior, algo mudou.
A aproximação evoluiu para encontros escondidos. Iris permanecia casada e Regilene morava na casa da mãe. A cidade, apesar de ser uma capital, era pequena demais para segredos. Mas o amor, quando acontece, encontra espaço. No começo, elas equilibraram a felicidade de estarem juntas e o medo do julgamento. O primeiro encontro foi carregado de ansiedade. Iris, acostumada à violência, sentiu que precisava de bravura para viver esse sentimento.
Quando finalmente terminou o casamento, o ex reagiu com ainda mais agressividade. Iris saiu de casa apenas com uma mala e um computador. Deixou para trás tudo aquilo que construíra materialmente nos últimos quase 20 anos. Como ela mesma diz, hoje pode até não ter uma casa própria, mas tem “o tijolo de amor”.
No começo, esse tijolo teve rachaduras. Os filhos de ambas, quase adultos, não aceitaram bem a notícia. Para eles, as duas eram amigas. Foi preciso explicar que o amor era verdadeiro e não havia motivo para sentir vergonha. Com o tempo, a resistência virou proteção. Hoje, eles dizem com orgulho que têm duas mães.
O preconceito, porém, não parou ali. Iris ficou um ano sem falar com sua genitora. A mãe da companheira também não aceitou de imediato. Ela dizia que respeitava, mas não aceitava — como se respeito e aceitação pudessem caminhar separados. Resilientes, continuaram. Depois de tanto tempo presas a uma realidade dolorosa, era impossível renunciar a uma história que as fazia felizes.
Ainda hoje, Iris enfrenta olhares de julgamento. Como professora, se preocupava com o que diriam os pais de seus alunos. Com o tempo, percebeu que nessa nova vida não havia espaço para o medo. Relacionamento diz respeito a carinho e cumplicidade.
Muitos acham que uma relação entre duas mulheres se resume à atração sexual, mas tem muito mais a ver com dividir o dia, se importar, criar uma rotina e construir um futuro. É saber que, se uma viajar, a outra vai sentir saudades como se faltasse um pedaço.
Iris e Regilene já vivem juntas há mais de 10 anos. Se no começo a dúvida e o medo acompanharam essa relação, hoje tudo o que ficou foi o amor. O amor que precisou ser construído aos poucos, como uma casa. Tijolo por tijolo. Um amor que resistiu a tempestades. Um amor que ainda hoje se reforça a cada olhar trocado e a cada “eu te amo” dito. Porque a verdade é que, às vezes, a felicidade mora ao lado.
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