Creatina faz o cabelo cair?
Tão popular quando o próprio suplemento é a crença de que a creatina pode causar a queda do cabelo. Entenda

Para os amantes das atividades físicas, principalmente de alta intensidade ou frequência, esse suplemento alimentar se tornou um dos mais queridinhos dos últimos tempos.
Porém, junto com a sua fama, surgiram alguns questionamentos sobre os possíveis efeitos colaterais que poderiam ocorrer. Entre eles, o mais propagado foi que a creatina faz o cabelo cair.
Com tantas opiniões e controvérsias sendo divulgadas, conversamos com a endocrinologista e especialista pela Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, Dra. Cristina Farah, para esclarecer se essa afirmação é um mito ou um fato.
O que é a creatina?
Segundo a Mayo Clinic, maior centro de medicina integrada do mundo, a creatina é um composto natural que vem de três aminoácidos: glicina, metionina e arginina.
Ela pode ser produzida em pouquíssima quantidade pelo fígado, pâncreas e rins diariamente, além de obtida, na maioria das vezes, pela ingestão de carnes e peixes. Porém, em niveis muito inferiores aos encontrados nos suplementos, nos quais sua formulação é concentrada.
Desempenhando um papel importante na produção de energia para as células, especialmente durante atividades de alta intensidade, a substância auxilia no desempenho físico, no ganho de massa e recuperação muscular pós-exercício.
“Estudos preliminares sugerem que a creatina também melhora o desempenho cognitivo, ou seja, a função cerebral, por isso, beneficia tanto atletas como praticantes convencionais de atividade física e, potencialmente, até mesmo pessoas sedentárias”, explica a Dra. Cristina.
A especialista ainda ressalta: “existem alguns potenciais efeitos colaterais, como retenção de água, desconforto gastrointestinal e cãibras musculares. Mas eles não são comuns com o uso de quantidades adequadas de creatina de boa qualidade”.
Afinal, o cabelo pode cair por causa da creatina?
Em 2009, o Clinical Journal of Sport Medicine, revista médica oficial da Academia Canadense de Medicina do Esporte e do Exercício, publicou um estudo que deu origem a essa hipótese.
Ele foi conduzido com 20 jogadores de rúgbi universitários, durante a temporada competitiva, divididos em dois grupos: um consumindo a creatina e outro apenas placebo.
O resultado mostrou um aumento significativo no nível de dihidrotestosterona (DHT), hormônio derivado da testosterona e presente no organismo de homens e mulheres, entre aqueles que ingeriram a substância.
A grande questão é que a taxa de DHT é um dos fatores que pode influenciar na alopecia androgenética (ou calvície), pois afeta os folículos capilares. Mas a condição, como o próprio Ministério da Saúde explica, é geneticamente determinada.
Em contrapartida, o Journal of the International Society of Sports Nutrition, publicou, em 2021, uma avaliação científica que comparava evidências de diversas pesquisas sobre os suplementos de creatina para responder dúvidas comuns.
Entre os 12 estudos já existentes que investigaram seus efeitos, dez mostraram que não houve nenhuma alteração nas concentrações de testosterona. Além disso, em cinco desses, a testosterona livre, que o corpo usa para produzir DHT, também foi medida e nenhum aumento foi encontrado.
“A verdade é que, atualmente, não há estudos comprobatórios da relação causal de creatina e queda capilar. Portanto, essa dúvida paira apenas no campo das especulações até o presente momento”, esclarece a Dra. Cristina.
“Quando falamos de contraindicações no uso de creatina, a orientação é voltada para pessoas com problemas renais, que necessitam de uma avaliação prévia de um nefrologista para saber se a substância pode ser segura e apropriada ao quadro”, finaliza.