A curva de aprendizagem não deveria ser uma desculpa
Curva de aprendizagem não deveria ser uma desculpaEntender a diferença entre curva de aprendizagem e usabilidade ruim pode ser a chave para o sucesso do seu produto.Foto de Christina Morillo por Pixabay com fundo adaptado para o contexto da análise.Desde que nascemos estamos aprendendo e adquirindo habilidades, algumas de certa forma impostas para nossa sobrevivência, outras muitas vezes por escolha, como nossos hobbies, preferências, etc.Mas você já percebeu o quanto é difícil aprender algo novo? Por exemplo, tocar violão. Parece fácil, contudo uma pesquisa realizada pela Fender Musical Instruments Corporation informou que 90% das pessoas abandonam o instrumento no primeiro ano. Isso pode ter diversos fatores, mas relatando minha experiência pessoal e tentativas frustradas, tocar violão dói! Nas primeiras semanas as pontas dos meus dedos ficaram muito doloridas, tinha câimbras nas mãos pelo jeito como segurava o braço ou fazia as notas e sentia dores nas costas e lombar devido à má postura ao segurar o violão incorretamente, tudo isso somado a um progresso lento que muitas vezes desmotiva. Todavia, com a prática, os dedos ficam calejados parecendo até uma armadura natural e tudo vai ficando mais automático, fácil e rápido à medida que repetimos.Imagem de Jani Snellman por Pixabay.Essa é a famosa curva de aprendizagem, acontece sempre que fazemos algo pela primeira vez: ao tocar um violão, fazer uma nova receita, aprender um idioma, utilizar um novo programa, porém muitas vezes a natural curva de aprendizagem pode ser utilizada como desculpa para o desenvolvimento de produtos com usabilidade ruim.“O que nós pensamos que é óbvio (num produto) não é quando usamos pela primeira vez.”— Uri LevineO que realmente é a curva de aprendizagem?Gráfico representativo da curva de aprendizagem.É um indicador criado em 1885 pelo psicólogo Hermann Ebbinghaus. Na época ele realizava estudos experimentais sobre a memória e introduziu o conceito para descrever como a habilidade de aprender uma nova tarefa evolui ao longo do tempo, ou seja, quanto mais repetirmos a tarefa ela tende a ficar mais fácil. O gráfico da curva apresenta um começo lento, mas à medida que o cérebro vai se acostumando à novidade temos uma evolução acelerada até chegar ao ponto do chamado “platô” que é quando a curva estabiliza e o conhecimento ou habilidade é adquirido por completo.Como não aplicar em produtosAgora que já sabemos como funciona essa curva de aprendizagem e que ela é inevitável, logo, não precisamos nos preocupar se o usuário de nossos produtos vai ter uma dificuldade inicial, afinal em breve eles se acostumarão correto? Errado. Vamos para mais uma experiência pessoal.Recentemente precisei aprender uma ferramenta “no-code”, como não possuo habilidades de programação parecia que essa ferramenta poderia me auxiliar nesse ponto. Fiz o tutorial inicial disponível, contudo era bastante superficial e me deixou com muitas dúvidas, então precisei recorrer a documentações, fóruns, YouTube e até desenvolvedores que conhecia para tentar entender melhor como utilizar a ferramenta. Passei semanas praticando, xingando e me irritando e confesso que em alguns pontos passei a curva de aprendizagem, mas outros vão muito além da minha força de vontade.Pode até ser uma ferramenta muito útil e fácil para alguém, mas na minha opinião, não foi pensada para todos os usuários leigos em programação como deveria. De fato não precisamos digitar todas as linhas coloridas de código que os desenvolvedores mestres dessa arte fazem, mas entendo que somos obrigados a saber pelo menos a lógica de programação. Desde como você precisa organizar os elementos até como será o comportamento dele na tela, tudo é muito mais voltado a um público que detenha desse conhecimento prévio.Exemplos do uso da ferramenta.Além da minha experiência pessoal, outros três conhecidos (todos leigos) também relataram o quanto foi difícil a fase inicial nessa ferramenta. A amostra é pequena, mas já é algo que me fez pensar: será que a culpa é da curva de aprendizagem ou ela é apenas uma desculpa?O custo da aprendizagemMuitas vezes essa desculpa mascara problemas iniciais graves relacionados à usabilidade e que podem afetar diretamente no faturamento das companhias.Não digo apenas pelos consumidores finais, que podem simplesmente parar de usar o seu produto e ainda influenciar muitos outros de forma negativa. Imagine o gasto, em tempo e dinheiro, para empresas que realizam treinamentos para equipes, novos funcionários, reciclagens, tudo porque o seu produto não é fácil de aprender. Temos ainda o seu próprio lado, pois produtos com esse tipo de falha podem gerar despesas elevadas com suporte e perca de clientes para a concorrência que se preocupou nesses pontos.Tempo é dinheiro. Foto por Pixabay.Sabemos que a sociedade está rapidamente avançando para a cultura do imediatismo e que estudos já relatam que jovens da geração Z prestam atenção plena em algo por apenas oito segundos, tudo isso tem impact

Curva de aprendizagem não deveria ser uma desculpa
Entender a diferença entre curva de aprendizagem e usabilidade ruim pode ser a chave para o sucesso do seu produto.

Desde que nascemos estamos aprendendo e adquirindo habilidades, algumas de certa forma impostas para nossa sobrevivência, outras muitas vezes por escolha, como nossos hobbies, preferências, etc.
Mas você já percebeu o quanto é difícil aprender algo novo? Por exemplo, tocar violão. Parece fácil, contudo uma pesquisa realizada pela Fender Musical Instruments Corporation informou que 90% das pessoas abandonam o instrumento no primeiro ano. Isso pode ter diversos fatores, mas relatando minha experiência pessoal e tentativas frustradas, tocar violão dói! Nas primeiras semanas as pontas dos meus dedos ficaram muito doloridas, tinha câimbras nas mãos pelo jeito como segurava o braço ou fazia as notas e sentia dores nas costas e lombar devido à má postura ao segurar o violão incorretamente, tudo isso somado a um progresso lento que muitas vezes desmotiva. Todavia, com a prática, os dedos ficam calejados parecendo até uma armadura natural e tudo vai ficando mais automático, fácil e rápido à medida que repetimos.
Essa é a famosa curva de aprendizagem, acontece sempre que fazemos algo pela primeira vez: ao tocar um violão, fazer uma nova receita, aprender um idioma, utilizar um novo programa, porém muitas vezes a natural curva de aprendizagem pode ser utilizada como desculpa para o desenvolvimento de produtos com usabilidade ruim.
“O que nós pensamos que é óbvio (num produto) não é quando usamos pela primeira vez.”
— Uri Levine
O que realmente é a curva de aprendizagem?

É um indicador criado em 1885 pelo psicólogo Hermann Ebbinghaus. Na época ele realizava estudos experimentais sobre a memória e introduziu o conceito para descrever como a habilidade de aprender uma nova tarefa evolui ao longo do tempo, ou seja, quanto mais repetirmos a tarefa ela tende a ficar mais fácil. O gráfico da curva apresenta um começo lento, mas à medida que o cérebro vai se acostumando à novidade temos uma evolução acelerada até chegar ao ponto do chamado “platô” que é quando a curva estabiliza e o conhecimento ou habilidade é adquirido por completo.
Como não aplicar em produtos
Agora que já sabemos como funciona essa curva de aprendizagem e que ela é inevitável, logo, não precisamos nos preocupar se o usuário de nossos produtos vai ter uma dificuldade inicial, afinal em breve eles se acostumarão correto? Errado. Vamos para mais uma experiência pessoal.
Recentemente precisei aprender uma ferramenta “no-code”, como não possuo habilidades de programação parecia que essa ferramenta poderia me auxiliar nesse ponto. Fiz o tutorial inicial disponível, contudo era bastante superficial e me deixou com muitas dúvidas, então precisei recorrer a documentações, fóruns, YouTube e até desenvolvedores que conhecia para tentar entender melhor como utilizar a ferramenta. Passei semanas praticando, xingando e me irritando e confesso que em alguns pontos passei a curva de aprendizagem, mas outros vão muito além da minha força de vontade.
Pode até ser uma ferramenta muito útil e fácil para alguém, mas na minha opinião, não foi pensada para todos os usuários leigos em programação como deveria. De fato não precisamos digitar todas as linhas coloridas de código que os desenvolvedores mestres dessa arte fazem, mas entendo que somos obrigados a saber pelo menos a lógica de programação. Desde como você precisa organizar os elementos até como será o comportamento dele na tela, tudo é muito mais voltado a um público que detenha desse conhecimento prévio.
Além da minha experiência pessoal, outros três conhecidos (todos leigos) também relataram o quanto foi difícil a fase inicial nessa ferramenta. A amostra é pequena, mas já é algo que me fez pensar: será que a culpa é da curva de aprendizagem ou ela é apenas uma desculpa?
O custo da aprendizagem
Muitas vezes essa desculpa mascara problemas iniciais graves relacionados à usabilidade e que podem afetar diretamente no faturamento das companhias.
Não digo apenas pelos consumidores finais, que podem simplesmente parar de usar o seu produto e ainda influenciar muitos outros de forma negativa. Imagine o gasto, em tempo e dinheiro, para empresas que realizam treinamentos para equipes, novos funcionários, reciclagens, tudo porque o seu produto não é fácil de aprender. Temos ainda o seu próprio lado, pois produtos com esse tipo de falha podem gerar despesas elevadas com suporte e perca de clientes para a concorrência que se preocupou nesses pontos.
Sabemos que a sociedade está rapidamente avançando para a cultura do imediatismo e que estudos já relatam que jovens da geração Z prestam atenção plena em algo por apenas oito segundos, tudo isso tem impacto direto em como devemos construir nossos produtos.
Pare de dar desculpas
Don Norman diz que as pessoas não são preguiçosas, elas apenas não estão motivadas. Crie produtos que proporcionem isso, que as motivem a utilizá-los. Entenda que a curva de aprendizagem é inevitável, mas não a use como desculpa, trabalhe realmente para auxiliar seu usuário a chegar ao “platô” rapidamente criando alternativas.
“O truque quando se está projetando algo que será usado por milhões de pessoas é tentar fazer algo com que todos consigam usar.”
— Don Norman
Falando novamente sobre experiências pessoais, Figma é a ferramenta mais utilizada por designers no mundo, segundo pesquisa da UX Tools, isso ocorre mesmo com ela realizando constantes atualizações, algumas pequenas outras grandes. Assim, seu usuário precisa frequentemente passar pela curva de aprendizagem, todavia para reduzir essa dificuldade inicial e contribuir para acelerar esse processo ela proporciona diversas alternativas como:
- Onboarding;
- Tour guiado (novas funcionalidades);
- Live de lançamentos;
- Vídeos explicativos nas redes sociais;
- Página documentada (sempre atualizada);
- Tutoriais para prática;
- Comunidade com exemplos;
- Fórum;
- Página de Dúvidas;
- Entre outros…

Outro bom exemplo, um pouco mais conhecido para o público geral, é o banco digital Nubank, ele nasceu com a premissa de ser mais simples e descomplicado que os demais bancos existentes na época e, a meu ver, realmente conseguiu isso. Possuo conta e foi incrivelmente fácil abri-la ao contrário de toda papelada e burocracia para a abertura a que estava acostumada em outros bancos tradicionais. Hoje, 44% da população adulta no Brasil tem uma conta nele.
Outro ponto que gostaria de destacar é o cuidado com o texto, em como a mensagem é transmitida, buscando evitar termos técnicos e difíceis muitas vezes desnecessários, mesmo sendo um banco, permitindo que o usuário realmente entenda e tenha autonomia pra tomar decisões.
Se você der uma navegada com calma, logo começa a reparar nesses pontos, mesmo assuntos mais complexos como seguros e investimentos se tornaram simples e viraram as “caixinhas”, inclusive eu que nunca investi por conta própria me senti confiante em criar as minhas primeiras “caixinhas” e foi um processo rápido e totalmente independente. Hoje dados apontam que pouco mais de 13% da base brasileira já aderiu a essa funcionalidade, o que além de tudo contribui para uma nova educação financeira na sociedade. É esse cuidado nos detalhes que fideliza o consumidor, faz ele querer usar mais o produto, pois a aprendizagem não é uma barreira.
Sempre se questione!
Não estou dizendo que os exemplos passados são perfeitos, com uma usabilidade impecável e que nenhum usuário terá uma experiência ruim, até porque cada experiência é única. Porém desejo instigar você a refletir sobre as dificuldades que o seu produto entrega pela primeira vez, seja no contato inicial ou em uma nova funcionalidade, pois cabe a nós pararmos de dar desculpas e criarmos produtos onde a curva de aprendizagem seja realmente natural e nada além disso.