De pianista a CEO: a incrível trajetória de Beatriz Ramos

Brasiliense, a economista foi quem criou a onda dos selinhos de fidelização no Brasil

Feb 20, 2025 - 17:57
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De pianista a CEO: a incrível trajetória de Beatriz Ramos

Beatriz Ramos levou um golpe da vida aos 21 anos: teria de encerrar precocemente a promissora carreira de pianista. Apaixonada por música, começou a tocar ainda criança, aos sete anos. A mãe, ainda que achasse o instrumento “um trambolho”, acatou a insistência da filha e a matriculou na Escola de Música de Brasília.

Aos 13, enquanto visitava a irmã em Amsterdã, recebeu um convite para estudar no Conservatório Real de Haia, com direito à bolsa de estudos. Aceitou o desafio e se mandou para lá. Anos depois, foi para Nova York para estudar na famosa Julliard School – e aproveitou para cursar Economia na Columbia University. Assim que se formou, descobriu a tendinite que a impediria de seguir a carreira de pianista. 

“Eu me formei assim: colocando gelo nos intervalos do último ensaio, para conseguir aguentar e finalizar. Foi insano”, recorda. “Eu poderia só pensar ‘cara, minha vida acabou, eu não mereço isso’. Mas eu tive a benção de ganhar, naquela época, um livro ‘A arte da felicidade’, do Dalai Lama. Então só aceitei o fato e pensei nos benefícios que o piano me trouxe. Morei fora cedo, aprendi vários idiomas, fiz economia porque era uma boa conexão com a Julliard. Eu entendi, então, que o mundo dos negócios me caía muito bem.”

Beatriz saiu em busca de um novo emprego, mas já tinha o lugar dos sonhos: a Sony Music. Encontrou o e-mail de uma das funcionárias e enviou seu currículo. Deu sorte. Naquele momento, a gravadora estava contratando jovens talentos para um trainee. “E aí o recrutador me chamou no dia seguinte. No terceiro dia, eu estava conhecendo o presidente da Sony. Olha que loucura!”

Na empresa, Beatriz teve contato com uma promoção da gravadora: a troca de selinhos em uma rede de varejos dava direito ao download de músicas de artistas da Sony. Foi lá também onde conheceu o holandês Robert van der Wallen, fundador da BrandLoyalty, especializada em campanhas de fidelização de clientes. E esse encontro moldaria sua vida profissional.

CEO DE UMA EMPRESA DO ZERO

Em um dos encontros profissionais com Beatriz, Robert van der Wallen perguntou a ela e ao então marido se considerariam voltar para o Brasil. Beatriz estava grávida de seu primeiro filho e com vontade de retornar para cá. “Gravidez, no Brasil, é celebrada! Na Europa, acho que é mais uma coisa assim ‘você não fez mais do que a sua obrigação’”, conta. 

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O marido desconfiou da pergunta de Robert, ele parecia sondá-la. Ainda não havia nenhum escritório da BrandLoyalty no Brasil, mas o empresário sonhava em abrir uma filial por aqui. “Ele não tinha investido nessa ideia ainda, nem encontrado a pessoa certa. E aí ele viu que eu falava holandês, conhecia o Brasil… o link com a matriz na Holanda seria muito fácil. Então, com 28 ou 29 anos, ele perguntou se eu queria montar um negócio aqui”.

Beatriz passou quatro meses em treinamento na Holanda e depois se mudou para São Paulo, em 2011. Em menos de três meses, ela fechou parceria com a Makro, uma rede de varejo holandesa. “Eu fui no hotel de uns holandeses que moravam em São Paulo, até para apresentar meu marido, ver se ele conseguia emprego. E aí tava o presidente do Makro – eu sabia que ele estaria lá. Me apresentei, contei sobre a nossa experiência e disse: “olha, a gente tem que revolucionar no Brasil.”

Ela sabia que a ideia dos selinhos, que havia aprendido na Sony, daria certo no Brasil. “Ainda não havia nenhum programa de fidelização aqui. Quer dizer, tinha o cartão fidelidade que era só para empresa conseguir seus dados. O cliente precisava ligar para o 0800 para conseguir pontos. E eu sabia que os selinhos iam funcionar bem aqui – ainda mais com esse nome, que também tem outro significado, o selinho físico”, conta. 

A Makro virou o primeiro cliente da BrandLoyaty no Brasil – e os selinhos viraram febre. Na sequência, Beatriz fechou contrato com a rede Dia. Com a empresa ainda pequena, a economista fazia de tudo, até cuidar do telemarketing. Ela se lembra de uma das vezes em que um senhor resgatou uma caçarola com tampa de vidro e não leu as instruções: deveria ser usada apenas no fogão, e não direto no fogo. 

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“Ele causou um alvoroço no SAC do Dia, porque a caçarola explodiu. Eu, então, liguei para ele, falei que era da rede Dia, e queria entender o que havia acontecido. Ele falou que foi cozinhar o frango e a panela explodiu. Perguntei se ele não tinha lido que era só para o forno. E ele ‘ah, eu tô muito velho, não entendo’. Eu disse que não tinha problemas, que ia enviar uma nova caçarola para ele, mas para ele tomar cuidado, não colocar de novo direto no forno”, conta.

“Ele agradeceu. E eu perguntei se ele precisava de mais alguma coisa. Ele: ‘sim, do frango que estava dentro’. Eu respondi que isso eu ficaria devendo. Foi genial”, lembra, aos risos. 

Os negócios iam bem, até que, em 2016, Robert van der Wallen decidiu vendê-la. Beatriz seguiu lá, mas bem menos satisfeita. “Chegou uma hora que eu cheguei no limite, porque eu prezo pelos meus conceitos de ética perante o cliente. Não era nada em relação a roubar, nem nada, mas de respeitá-los. Por exemplo, para mim, o cliente não pode chegar para trocar os selinhos e não encontrar o produto que ele quer”, conta. “Quando eu estava chegando nesse ponto, nosso fundador disse ‘vou voltar para o mercado’”.

Só que ele encontrou um empecilho: os atuais donos não queriam vender a empresa de volta. Ele, então, criou, em 2020, uma nova marca, a L – Founders of Loyalty. E, como não poderia ser diferente, convidou Beatriz para assumir a presidência na América Latina. E ela topou – mas primeiro tirou um ano sabático, para viver a companhia dos dois filhos.

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“Aí, três anos depois, eles compraram a BrandLoyalty de volta. Viramos uma só. E foi estranho participar da fusão de uma empresa que eu deixei. Eu já conhecia parte da equipe e saí para a concorrência. Mas um momento de muito aprendizado também. Tivemos de contestar muitas coisas, colocar os processos em linha de novo”, diz. 

Hoje, a L – Founders of Loyaty, sob o comando de Beatriz, é quem cuida de 90% dos programas de fidelização no Brasil – existem apenas outras duas empresas com atuação semelhante por aqui, ambas gringas.

E ela se diverte no trabalho, sem abrir mão da vida pessoal. É regra para ela pegar os meninos, de 13 e 9 anos, na escola todos os dias, às 15h30. Quando volta para a casa, segue trabalhando remotamente. Às vezes, às sextas, quando os funcionários se reúnem para fazer um balanço de aprendizados da semana, ela leva o primogênito.

“Numa dessas vezes, ele foi. E lá temos a dona Rose, que é quem faz e serve o café. E ela tem uma missão, que é me fazer beber mais água. E, naquele dia, me deu bronca porque eu não tinha comido direito, deu bronca em outra pessoa que tinha feito alguma coisa. Meu filho ficou observando. Ele foi o último da reunião a falar. E nós perguntamos a ele qual tinha sido o aprendizado da semana. E ele respondeu: ‘que a dona Rose manda em todo mundo aqui’”, relembra, aos risos.

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“Apesar do faturamento, somos uma equipe de 55 pessoas, porque não precisa de tanta gente aqui. Então o clima é muito legal”, conclui.

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