Designers, perdemos o gosto

Talvez algumas questões sejam bem mais profundas.Automat (1927) de Edward Hopper.Existe um sentimento que vive no coração de muitos designers de que “está tudo muito igual”. Produtos, interfaces, experiências — todas iguais. Apesar de eu e outras pessoas como Al Lucca já termos falado sobre, esse foi um sentimento que nunca tinha me pegado muito. Mas venho refletido mais.Há mais ou menos 10 anos, no auge do boom dos apps, começamos a notar o nascimento de muitos dos apps que usamos até hoje. Naquela época, parecia haver um acordo em comum de que diferencial = visual. Cada um possuía sua cara, seu estilo, padrões e convenções de uso. Apps como adolescentes tentando encontrar seu lugar no mundo e no coração de quem os usava. Designers, aqui, (aparentemente) tinham bastante liberdade criativa e, como num mundo sem fronteiras, podiam navegar por quaisquer caminhos.As coisas mudaram. Os apps cresceram. Aprenderam uns com os outros. Convenções (e até “leis”) foram criadas. Nesse aprendizado mútuo, parece que empresas tiveram um insight: inovação visual não é tão importante; e pode até ser prejudicial. Melhor nos manter conservadores e garantir lucratividade e conversão. O foco se tornou (ainda mais) sobre negócio. Designers também entraram na dança e tiveram aquela “liberdade” tomada, principalmente a visual.Por que você está querendo criar um novo padrão? Quais métricas e alavancas essa proposta move? E em quantos %? Está adequado ao Design System? Feedback qualitativo? Isso prova o quê? Citações de clientes não dão lucro.Ganhamos aumentos de salários, responsabilidades e o tão sonhado “lugar à mesa” ao lado dos “adultos”. Mas parece que isso custou a liberdade de criar.Acho que é isso que designers sentem falta.Sentem falta da sensação de tratar, mesmo que por apenas um momento, seus projetos do trabalho como projetos pessoais. Incluir uma assinatura, um detalhe, um “deleite” que não precisa de uma justificativa, uma métrica ou ponteiro que precise ser mexido. A proposta por si só basta.Mas diria que tem algo mais: designers não só sentem falta de poder criar sem essas “burocracias”; designers perderam o gosto por coisas diferentes.Quando foi a última vez que você testou um produto com uma proposta totalmente nova? Quanto tirou um tempo pra aprender a usar o Arc? Usou uma ferramenta nova que não faz ideia de como se utiliza?Clamamos o tempo inteiro que “as coisas estão iguais” — e quando surge algo diferente, olhamos com desdém. Ou até mesmo chegamos a dar uma conferida… Mas logo passa.Será que esse sentimento de pasteurização do design não é algo muito mais profundo?Não tenho conclusões. Mas uma coisa me vem à cabeça:Esse lugar à mesa e a importância que deram para nós, designers, para algumas pessoas, custou caro demais.Você também tem esse sentimento? Perdeu o gosto ou pensa diferente?Me conta respondendo esse e-mail ou nos comentários.ClicouSe for ver um link essa semana, veja esse.“Você tem que ter disposição pra adentrar o desconhecido”.Há tempos não lia um artigo que conversasse tanto comigo: pessoal, que fala sobre coisas do nosso dia a dia, mas que devido ao próprio dia a dia, não paramos muito pra refletir.Se está passando por um momento de incerteza e dificuldades, lembre que talvez isso seja justamente parte do processo. Vale demais a leitura.Se você quer ser criativo, não pode ter certezaPra viagemLeve com você nessa semana.Em novembro do ano passado, o Todoist — uma ferramenta de gestão de tarefas — enviou um email perguntando aos seus usuários ‘quais conquistas o Todoist os ajudou a realizar’.O ano passou e eles lançaram uma página com algumas das conquistas dos seus usuários, com um porém: qual foi a tarefa que iniciou aquela conquista.Fica a pergunta: quais sonhos você tem ajudado seus usuários a realizar?Tudo começa com uma única tarefaO que achou dessa edição?Comente ou responda a esse e-mail e vamos conversar :)Designers, perdemos o gosto was originally published in UX Collective

Feb 10, 2025 - 17:46
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Designers, perdemos o gosto

Talvez algumas questões sejam bem mais profundas.

Automat (1927) de Edward Hopper.

Existe um sentimento que vive no coração de muitos designers de que “está tudo muito igual”. Produtos, interfaces, experiências — todas iguais. Apesar de eu e outras pessoas como Al Lucca já termos falado sobre, esse foi um sentimento que nunca tinha me pegado muito. Mas venho refletido mais.

Há mais ou menos 10 anos, no auge do boom dos apps, começamos a notar o nascimento de muitos dos apps que usamos até hoje. Naquela época, parecia haver um acordo em comum de que diferencial = visual. Cada um possuía sua cara, seu estilo, padrões e convenções de uso. Apps como adolescentes tentando encontrar seu lugar no mundo e no coração de quem os usava. Designers, aqui, (aparentemente) tinham bastante liberdade criativa e, como num mundo sem fronteiras, podiam navegar por quaisquer caminhos.

As coisas mudaram. Os apps cresceram. Aprenderam uns com os outros. Convenções (e até “leis”) foram criadas. Nesse aprendizado mútuo, parece que empresas tiveram um insight: inovação visual não é tão importante; e pode até ser prejudicial. Melhor nos manter conservadores e garantir lucratividade e conversão. O foco se tornou (ainda mais) sobre negócio. Designers também entraram na dança e tiveram aquela “liberdade” tomada, principalmente a visual.

Por que você está querendo criar um novo padrão? Quais métricas e alavancas essa proposta move? E em quantos %? Está adequado ao Design System? Feedback qualitativo? Isso prova o quê? Citações de clientes não dão lucro.

Ganhamos aumentos de salários, responsabilidades e o tão sonhado “lugar à mesa” ao lado dos “adultos”. Mas parece que isso custou a liberdade de criar.

Acho que é isso que designers sentem falta.

Sentem falta da sensação de tratar, mesmo que por apenas um momento, seus projetos do trabalho como projetos pessoais. Incluir uma assinatura, um detalhe, um “deleite” que não precisa de uma justificativa, uma métrica ou ponteiro que precise ser mexido. A proposta por si só basta.

Mas diria que tem algo mais: designers não só sentem falta de poder criar sem essas “burocracias”; designers perderam o gosto por coisas diferentes.

Quando foi a última vez que você testou um produto com uma proposta totalmente nova? Quanto tirou um tempo pra aprender a usar o Arc? Usou uma ferramenta nova que não faz ideia de como se utiliza?

Clamamos o tempo inteiro que “as coisas estão iguais” — e quando surge algo diferente, olhamos com desdém. Ou até mesmo chegamos a dar uma conferida… Mas logo passa.

Será que esse sentimento de pasteurização do design não é algo muito mais profundo?

Não tenho conclusões. Mas uma coisa me vem à cabeça:

Esse lugar à mesa e a importância que deram para nós, designers, para algumas pessoas, custou caro demais.

Você também tem esse sentimento? Perdeu o gosto ou pensa diferente?

Me conta respondendo esse e-mail ou nos comentários.

Clicou

Se for ver um link essa semana, veja esse.

“Você tem que ter disposição pra adentrar o desconhecido”.
Há tempos não lia um artigo que conversasse tanto comigo: pessoal, que fala sobre coisas do nosso dia a dia, mas que devido ao próprio dia a dia, não paramos muito pra refletir.
Se está passando por um momento de incerteza e dificuldades, lembre que talvez isso seja justamente parte do processo. Vale demais a leitura.
Se você quer ser criativo, não pode ter certeza

Pra viagem

Leve com você nessa semana.

Em novembro do ano passado, o Todoist — uma ferramenta de gestão de tarefas — enviou um email perguntando aos seus usuários ‘quais conquistas o Todoist os ajudou a realizar’.
O ano passou e eles lançaram uma página com algumas das conquistas dos seus usuários, com um porém: qual foi a tarefa que iniciou aquela conquista.
Fica a pergunta: quais sonhos você tem ajudado seus usuários a realizar?
Tudo começa com uma única tarefa

O que achou dessa edição?

Comente ou responda a esse e-mail e vamos conversar :)


Designers, perdemos o gosto was originally published in UX Collective